As utilidades da moringa oleifera vão do fornecimento de nutrientes à fabricação de sabonetes
A moringa oleifera, árvore nativa da Índia, é o que se pode chamar de ser multiuso. Além de nutritiva – seus frutos, folhas, flores e sementes são ricos em vitamina A e C, cálcio, ferro e fósforo –, a planta produz um óleo usado na fabricação de sabonetes, cosméticos ou combustível para lamparinas. Daí, o apelido de “árvore milagrosa” atribuído a ela. Agora, uma pesquisa feita pelo Departamento de Engenharia Química da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, descobriu mais uma função da espécie: uma proteína presente em sua semente, quando combinada com areia, é capaz de purificar e clarear a água de maneira rápida e barata.
O estudo foi publicado na edição mais recente do informativo especializado American Chemical Society. Stephanie Velegol, uma das principais autoras, explica que a filtragem é possível graças a um mecanismo químico que ocorre entre a proteína e elementos presentes na água, responsáveis por deixar o líquido turvo. “Os micro-organismos e partículas são, em sua maioria, carregados negativamente, então, eles ‘grudam’ em partículas positivas”, detalha. “A proteína catiônica das sementes faz com que essas partículas negativas se unam e se depositem no fundo do recipiente.” Ela diz que essa estrutura molecular também é capaz de destruir as paredes celulares das bactérias, o que as torna inativas e incapacitadas de se reproduzir.
Stephanie esclarece que a comunidade científica já tinha conhecimento das propriedades de filtragem da proteína presente na semente da moringa. O que não se sabia ainda era como fazer com que as sementes não deixassem resíduos de matéria orgânica na água depois do processo. Uma vez que esses restos eram usados pelos micro-organismos para sujar a água novamente, o armazenamento do líquido por muito tempo era inviável. “Alguns pesquisadores isolaram a proteína ativa, mas seus métodos eram bastante trabalhosos e não sustentáveis no campo”, analisa Stephanie. “Nossa abordagem baseou-se em absorver as proteínas para a areia.”
Essas proteínas fazem com que os grãos de areia, normalmente carregados negativamente, adquiram carga positiva – e se tornem capazes de capturar e matar as bactérias. Ao fim do procedimento – que exige apenas areia, sementes e água –, basta escoar o material orgânico remanescente.
Depois de ler o estudo, Gilberto Kerbauy, professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a pesquisa americana terá utilidade especialmente em países mais pobres, onde não há muitas opções para garantir água em condições de consumo. “É um filtro biológico interessante que, ao mesmo tempo em que tira a partícula em suspensão, mata bactérias como a Escherichia coli, causadora da diarreia”, analisa. Kerbauy, porém, frisa que a pesquisa ainda não pode ser imediatamente posta em prática. “Tudo foi feito em condições laboratoriais”, lembra. “A areia era especial, com um tamanho adaptado e purificada.”
O desafio, segundo o botânico, é encontrar uma maneira de realizar a técnica com areia comum e com o extrato bruto da semente, já que os cientistas isolaram a proteína específica para viabilizar o estudo. “Cabe aos países interessados avançar nessas pesquisas, para trazê-las a um nível de aplicabilidade real”, reforça.
Outras utilidades Luciano Coelho Milhomens, botânico e professor de Ciências Biológicas da Universidade Católica de Brasília, estima que a prática de limpar água com a ajuda da semente de moringa, como mencionado por Stephanie Velegol, já ocorre há pelo menos cinco anos. Ele destaca que outras pesquisas demonstraram que a planta tem também potencial medicinal e alimentar, uma vez que é composta por diversas vitaminas e minerais. “Antes de usar qualquer planta com propriedades medicinais, porém, é preciso verificar se há estudos sérios que comprovem a eficácia. Só a experiência popular não é suficiente”, alerta.
Para o botânico, a importância de pesquisas como a da Universidade da Pensilvânia se dá na medida em que o tratamento da água da forma como é feito, industrialmente, tem preço elevado e vem se tornando cada vez mais complicado e inacessível. “É sempre interessante minimizar os custos para a população carente”, reforça. A praticidade do método, que precisa apenas da semente de uma árvore que cresce durante o ano inteiro, também é um detalhe que merece destaque. “O processo só teria o custo de plantar e regar a árvore.”
Além da moringa oleifera, Milhomens ressalta que há outras espécies vegetais consideradas emblemáticas – como o buriti, palmeira comum no Centro-Oeste. “Dele se aproveita tudo. Como diz o ditado popular, é como se fosse uma vaca, em que só não se aproveita o berro”, brinca. A palma, árvore originária da Malásia e muito usada na produção de óleo, também está entre os exemplos de “árvores maravilhosas”. “Ela é muito usada para alimentar animais e consegue sobreviver a climas tropicais com temperaturas elevadas.”
Fonte: Estado de Minas
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